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Chapter 24 - Crescimento Arcano e Chamado Real.

Três anos. Parece muito tempo quando se tem apenas seis anos de idade, mas para mim, voaram. Olhando para trás, parece que foi ontem que recebi minha primeira espada de treino e comecei a sentir a Centelha em minha mão vibrar com mais força. Agora, estou mais alto, com 1,23 metro de altura, e meu cabelo loiro, que minha Mãe costumava cortar bem curto, agora cai nos meus ombros. Meu Pai diz que pareço mais sério, e talvez seja verdade. É difícil não levar as coisas a sério com a rotina que tenho.

De segunda a sexta, meus dias pertencem à Vovó Margareth e às artes arcanas. Sábados e domingos são para a espada, com meu Pai. É cansativo, mas sei que preciso ficar mais forte. Para proteger a todos que me são importantes, e principalmente Vivian. E para entender o que aconteceu com o Barão Valentine naquela noite... mesmo que ninguém fale sobre isso abertamente, eu sei que foi a Vovó. Senti o poder dela naquele dia, e senti o medo nos olhos do Conde Stein quando ele veio falar com ela depois.

Meu treinamento arcano tem sido... intenso. A Runa da Centelha na minha mão esquerda, a estrela de seis pontas, brilha forte agora. Vovó diz que completei a fase de acumulação, que minha Runa está cheia de energia bruta. O próximo passo é a purificação, limpar essa energia para poder subir para o nível Chama. É como limpar um copo sujo antes de enchê-lo com água limpa, ela explicou. Exige muito controle, muita concentração.

E concentração é algo que tenho praticado muito. Vovó me ensinou sobre a Força de Vontade, que não é só querer algo. É a união do “Querer” – a intenção, o desejo que começa tudo – e da “Consciência” – o pensamento focado que guia esse desejo. Passei horas meditando, tentando sentir essa faísca dentro de mim, tentando direcioná-la sem deixar minhas outras ideias ou medos atrapalharem. Ainda não consigo unir tudo com minha Força Vital para ter a verdadeira Força de Vontade, mas já sinto o Querer e a Consciência separados. Vovó diz que logo começaremos a usar isso para criar feitiços mais... intencionais.

Mesmo assim, já consigo fazer algumas coisas com minha afinidade principal, o Fogo. Não são mais só faíscas sem controle. Consigo criar um “Arcus Ignis” (Arco de Fogo) que dispara flechas de energia, ou um “Globus Ignis” (Bola de Fogo) quase do tamanho de uma bola de futsal, embora às vezes ela saia meio torta. Para defesa, já consigo erguer um “Murum Ignis” (Parede de Fogo), e para atacar de longe, formo uma “Lancea Ignis” (Lança de Fogo) de uns cinquenta centímetros. É incrível sentir a energia responder à minha vontade, mesmo que de forma ainda simples.

Falando em força de vontade, durante esses três anos a mestra Margareth começou a me ensinar a aplicação da força vital, junto com o querer e a consciência. O treinamento de aplicação da força vital começou durante esse último ano.

No começo, eu achava que força vital era algo simples — como energia física, algo que se usa até acabar. Mas com o tempo, percebi que era mais sutil. Era a vibração que mantém tudo em pé quando o corpo quer cair. Margareth dizia que era a chama que ainda dança mesmo quando o vento sopra forte.

O treinamento acontecia sempre durante o dia — de segunda a sexta, sem falta. Ela era rígida com isso.

— Disciplina faz a alma ficar afiada, — dizia ela. — A Força Vital respeita quem respeita o próprio ritmo.

Antes de começar, Margareth sempre desenhava círculos rúnicos no chão do campo, usando carvão de visco e pó de cinza de ervas. Os símbolos se entrelaçavam como pequenas engrenagens vivas.

— Essas runas não lançam feitiços, menino. Elas afinam a mente. Chamam a atenção pro presente. Dentro do círculo, não há ontem nem amanhã. Só tu e o que tu carrega.

Era dentro desses círculos que eu aprendi a perceber o fluxo da minha força vital. A sentir meu corpo como um campo de energia vivo, pulsante, cheio de passagens, resistências e correntes. Margareth dizia que era preciso conhecer o próprio território antes de tentar mover qualquer poder.

Mas havia algo que me ajudava mais do que qualquer círculo: os brincos que minha Mãe, Maria, me deu no meu aniversário de três anos.

Pequenos, de prata escura, com inscrições rúnicas sutis.

Sempre que eu tocava neles durante os exercícios, minha mente clareava. Era como se o barulho por dentro silenciasse. Pensamentos se alinhavam. A intenção ficava nítida. E, às vezes, flashes daquele dia vinham — o riso da minha Mãe, a voz trêmula dela dizendo:

— “E como presente de seus pais, meu filho” — disse ela, a voz clara e emocionada — “receba estes Brincos Rúnicos de Clareza. Que o amor e a proteção de sua família estejam sempre com você, mantendo sua mente focada e seu coração seguro.”

Lembrar disso não me tirava do presente. Pelo contrário — me ancorava nele. Me lembrava de por que eu treinava. De por quem eu queria me tornar mais forte.

Margareth percebeu.

— Teus brincos te firmam, menino. Que bom. Todo guerreiro tem um ponto de retorno. Um símbolo que o lembra de quem ele é. Não esquece disso, nunca.

Com o tempo, consegui alinhar o Querer, a Consciência e a Força Vital num só momento.

O Querer dava direção.

A Consciência, foco.

E a Força Vital... o poder de mover o mundo, mesmo que só um pouco de cada vez.

E tudo isso começava ali, no círculo, com o sol ainda alto no céu, e os dedos tocando o metal frio dos brincos.

Naqueles momentos, eu sentia que a realidade respirava comigo.

Naqueles momentos, eu sentia que a realidade respirava comigo.

Foi com essa base que comecei a aplicar tudo isso nos primeiros feitiços. E, como era de se esperar, não foi bonito no começo.

Margareth me colocou diante de um campo aberto, e à frente, fincado no chão, um alvo de madeira redondo, com marcas circulares e uma pequena pedra presa bem no centro. A uns vinte metros de distância.

— Hoje, você vai começar com o Globus Ignis, — ela disse, com os braços cruzados. — Uma esfera simples, concentrada. Nada de espetáculo. Só clareza, foco... e vontade.

Na primeira tentativa, a energia mal se formou. Concentrei, senti o calor subir pelo braço, a intenção no centro da palma... e puf! — uma faísca tímida que não foi além de dois passos à frente.

Frustrado, soltei um suspiro e encarei a mão. Ela ainda fumegava levemente.

— Calma, Elian, — Margareth disse, se aproximando. — Você está empurrando a energia como quem quer se livrar dela. Não é sobre força bruta. É sobre direção. Tenta de novo.

Toquei os brincos. Fechei os olhos. Respirei.

Lembrei da sensação que tinha nos círculos rúnicos.

Consciência primeiro — sentir o presente.

Depois o Querer — lembrar o porquê.

Por fim, a Força Vital — a ação.

Dessa vez, uma esfera surgiu. Pequena, instável, tremulando como se fosse feita de chama líquida. Lancei — e ela voou. Baixa, pesada. Alcançou cinco metros. Caiu antes da metade do caminho.

Ainda assim, Margareth sorriu com o canto dos lábios.

— Avançou. Está melhor que antes.

Treinei aquilo por semanas. Toda manhã, de segunda a sexta, a mesma sequência. Às vezes, a esfera explodia na minha mão. Outras vezes, nem sequer aparecia. E em algumas, raras, ela dançava pelo ar como uma faísca viva.

Com o tempo, comecei a sentir a diferença.

Quanto mais minha mente clareava, mais o feitiço obedecia.

Se meu querer vacilava, a esfera desviava ou se desfazia no ar.

Mas quando tudo se alinhava — pensamento, emoção e energia — a Globus Ignis ia firme. Curta, mas firme.

Hoje, ainda não consigo alcançar o alvo a vinte metros.

Mas minha esfera já voa cerca de doze metros com consistência.

É o dobro do que conseguia quando comecei.

E sei que é só o começo.

— Não meça sua força só pela distância, Elian, — Margareth me disse outro dia, enquanto observava a esfera que caiu a poucos metros do centro. — Meça pelo quanto você consegue ser inteiro no que faz. O alcance virá. O que importa é que você não está mais lançando no escuro. Agora você sabe o que está jogando — e por quê.

E ela tinha razão.

Hoje, cada Globus Ignis que conjuro não é só uma esfera de fogo.

É o reflexo da minha clareza. Do meu querer.

Da minha vontade em movimento.

Agora que estou começando a dominar o fogo, Margareth disse que em breve iniciarei o treinamento com os outros elementos com os quais tenho afinidade: a terra... e o ar.

Estou ansioso para descobrir o que esses caminhos reservam — e o que, dentro de mim, eles ainda vão revelar.

Mestra Margareth, também começou a me treinar nas outras afinidades, Terra e Ar. Com a Terra, sinto uma conexão mais fácil, consigo sentir o chão e até levantar um pequeno “Tumulus Terrae” (Elevação de Terra). Mas o Ar... é difícil. Sinto o vento, consigo criar um “Flatus Venti” (Lufada de Vento), mas é como tentar segurar fumaça. Foi pensando nisso, na mistura do Fogo quente com o Ar instável, que tive uma ideia: raios vulcânicos! Será que eu poderia criar um “Fulmen Vulcanus”? Vovó disse que é uma Arte Divergente complexa, que preciso dominar muito mais os elementos básicos primeiro, mas a ideia não sai da minha cabeça.

Se nas artes arcanas eu sinto que avanço, com a espada... é outra história. Meu Pai me ensina as posturas, os golpes, as defesas. Eu me esforço, pratico todos os fins de semana, mas meu corpo não parece entender o que fazer com a energia como o de Belle. Ela usa o “Passus Aethereus” e parece desaparecer, enquanto eu mal consigo fazer meus músculos ficarem um pouco mais fortes ou rápidos canalizando energia. Meu Pai diz que está tudo bem, que meu caminho é diferente, que devo usar a espada para me defender e as artes arcanas para atacar. Mas quando treino com Belle, é difícil não me sentir... lento.

Três anos se passaram desde que começamos a treinar juntos, e às vezes ainda me pego surpreso com o quanto Belle mudou nesse tempo.

Ela cresceu — não apenas em habilidade, mas fisicamente também. Está visivelmente mais alta do que era quando nos conhecemos, com uma postura firme e segura, como alguém que sabe exatamente onde pisa. Os ombros, antes delicados, agora carregam a tensão e a disciplina de quem treinou o próprio corpo sem descanso. Não há dúvidas de que ela se tornou mais forte — seus golpes são mais rápidos, mais pesados, mais precisos.

O cabelo, de um vermelho profundo que lembra as brasas que se recusam a apagar, agora passa um pouco dos ombros. Para o treinamento, ela o prende em um rabo de cavalo simples, mas eficiente, que balança a cada movimento com uma graça que quase esconde a força por trás de cada passo. Seus olhos, âmbar brilhante, não perderam aquele brilho intenso — talvez até o tenham acentuado. Eles observam tudo, analisam, antecipam. Quando ela me encara antes de um golpe, é como se pudesse ver através da minha postura e prever minha intenção antes mesmo de eu decidir.

Não há mais dúvidas: Belle não é mais apenas uma garota nobre com talento. Ela é uma combatente. E cada vez que treinamos juntos, eu percebo o quanto preciso evoluir para alcançá-la.

Os treinos com a Belle na propriedade da Mestra Margareth deixam isso bem claro. Quando usamos só as espadas, ela é um furacão ruivo. A velocidade dela com o “Passus Aethereus” é incrível, e mesmo sem ele, ela é rápida e precisa. Eu me sinto um boneco de treino desajeitado tentando me defender dos ataques dela. Mais vezes do que gosto de admitir, minha espada voa da minha mão ou sinto o toque da lâmina de treino dela no meu peito.

— Você pensa demais, Elian! — ela sempre diz, rindo, mas sem maldade. — Tem que sentir!

“Sentir”... É fácil para ela, que parece ter nascido para isso. Eu tento, mas meu corpo não obedece como o dela. A frustração queima por dentro, às vezes.

Mas tudo muda quando a Mestra nos deixa usar um pouco das artes arcanas. Aí, a história é outra. Belle tenta usar a velocidade para chegar perto, mas eu aprendi a usar o ambiente e meus feitiços para manter a distância. Um “Murum Ignis” aqui, uma “Lancea Ignis” ali para forçá-la a recuar. Às vezes, um “Flatus Venti” a desequilibra por um segundo, tempo suficiente para eu me reposicionar.

Lembro de um treino em que ela veio para cima com o “Passus Aethereus”, a espada brilhando. Em vez de tentar bloquear, bati o pé no chão e puxei a energia da Terra, criando um “Tumulus Terrae” bem na frente dela. Ela tropeçou, e antes que se recuperasse, lancei um “Globus Ignis” controlado, que passou perto o suficiente para assustá-la e fazê-la rolar para longe.

A propósito, creio que ainda não apresentei adequadamente o funcionamento das artes arcanas que venho desenvolvendo ao longo do meu treinamento. À primeira vista, elas podem parecer simples manifestações elementares — labaredas, rajadas, tremores — mas, na prática, cada arte exige disciplina, estudo e uma conexão refinada com os elementos que pretendemos manipular.

Começando pelas conjurações ígneas, que são o cerne da minha afinidade natural.

A Arcus Ignis, ou Arco de Fogo, permite a criação de um arco composto inteiramente por energia ígnea. Este arco pode disparar flechas do mesmo elemento, cada uma formada pela condensação precisa do fogo. A dificuldade não reside apenas em gerar as chamas, mas em moldá-las com estabilidade e manter a precisão nos disparos — algo que requer um domínio constante sobre o fluxo de mana.

A Globus Ignis, ou Bola de Fogo, é uma arte ofensiva direta: conjura-se uma esfera de fogo concentrado, cuja eficácia depende do equilíbrio entre intensidade e estabilidade. No estágio atual do meu desenvolvimento, sou capaz de manter uma esfera do tamanho de uma bola de futsal com controle razoável. No entanto, uma mínima falha de foco pode fazê-la colapsar ou, pior, detonar antes da hora.

A Murum Ignis — Parede de Fogo — é uma barreira de chamas voltada à defesa. Ela pode bloquear ataques físicos, interromper avanços inimigos ou desviar projéteis, dependendo da intensidade e espessura da parede formada. É especialmente útil para ganhar tempo durante um confronto, ainda que exija constante canalização de energia para permanecer ativa.

Já a Lancea Ignis, a Lança de Fogo, é uma das mais exigentes em termos de controle. Trata-se da criação de uma lança feita de fogo condensado, que pode ser utilizada tanto em combates corpo a corpo — embora isso seja arriscado — quanto como arma arremessada. A manipulação de uma estrutura tão densa e afiada de fogo exige não só precisão, mas resistência, pois a conjuração é instável e poderosa.

Embora minha afinidade principal seja com o Fogo, também fui introduzido a artes de outros elementos, como a Tumulus Terrae, que manipula o solo para criar pequenas elevações ou barreiras de terra. Trata-se de uma arte fundamentalmente territorial: ela depende da presença de solo adequado no ambiente. Superfícies artificiais ou rochas compactadas, por exemplo, dificultam sua execução.

A Flatus Venti, ou Lufada de Vento, é uma rajada de ar concentrada que pode ser usada para empurrar objetos, afastar oponentes ou dispersar gases e fumaças. Ainda que pareça simples, o vento é um elemento volátil. Controlá-lo exige atenção minuciosa à direção, intensidade e ao ambiente ao redor — e um erro, por menor que seja, pode virar a força contra o próprio conjurador.

E então, há uma arte que eu não consigo realizar. Uma que, até hoje, me intriga profundamente.

A Passus Aethereus, ou Passo Etéreo.

Essa técnica não envolve um elemento específico, mas sim uma forma de Aprimoramento Físico. O usuário canaliza mana diretamente nos músculos e tendões das pernas, provocando um movimento explosivo que dá a impressão de um teleporte de curta distância. É perfeita para esquivas, reposicionamentos rápidos ou ataques surpresa.

Belle, minha atual adversária de treino, consegue executá-la com fluidez impressionante. Em um instante ela está diante de mim, e no momento seguinte, às minhas costas. Confesso que observar essa arte em ação me fascina — e me frustra. Por mais que eu tente, meu corpo simplesmente não responde da mesma forma. A energia parece dispersar-se antes de atingir a tensão necessária. Não sei se é uma limitação de afinidade, uma falha no meu controle ou apenas algo que o meu corpo, por enquanto, se recusa a aceitar.

Seja como for, ver alguém da minha idade — dois anos mais velha — usar uma técnica tão avançada com tamanha naturalidade serve como um lembrete constante de que ainda há muito a aprender... e superar.

Bom... voltando à luta.

— Trapaceiro! Usando o chão! — ela gritou, irritada.

— Você usou o Passo Etéreo! Eu usei o que tenho! — respondi, já preparando outro feitiço. É quase um jogo. Ela tenta chegar perto, eu tento mantê-la longe. Geralmente, ninguém ganha de verdade, e um dos adultos acaba mandando a gente parar.

Às vezes, consigo sentir os olhares dos adultos sobre nós enquanto treinamos. Meu Pai, o Conde Stein e a Mestra Margareth ficam na varanda, conversando baixo. Não consigo ouvir tudo, mas percebo que estão nos analisando, como peças em um jogo. Sinto o olhar penetrante da Vovó, que parece ver através de mim, avaliando não só o que faço, mas por que faço.

Uma vez, depois de um impasse particularmente longo, ouvi o Conde Stein dizer algo sobre a velocidade de Belle ser a chave para “neutralizar a vantagem de alcance”. Meu Pai respondeu algo sobre meu “raciocínio tático” compensar minha “falta de agilidade física”. E então a voz calma da Vovó cortou o ar, falando sobre a “eterna dança entre o poder bruto e a lâmina afiada”, sobre como o Espadachim busca o confronto direto e o Arcanista busca o controle da distância. Ela disse que a vitória real está em explorar a fraqueza do outro ou na “sinergia” em equipe.

Sinergia... Fiquei pensando nisso. Eu e Belle, juntos? Nossas habilidades se completando? É uma ideia estranha, considerando o quanto competimos durante os treinos. Mas Vovó também disse que o mundo real não é um duelo equilibrado e que precisamos estar preparados para tudo. Isso me deu um arrepio. Preparados para quê, exatamente?

Essas conversas me fazem perceber que há muito mais em jogo do que apenas aprender a lutar. Há estratégias, vantagens, desvantagens... e um mundo lá fora que parece muito mais perigoso do que nosso pátio de treinamento.

O chamado veio em um sábado à tarde. Eu estava exausto depois do treino de espada com meu Pai, sentado no chão de terra do nosso pátio enquanto ele limpava sua lâmina. O sol estava começando a se pôr, deixando o céu alaranjado.

Ouvimos o som de cascos na estrada. Não recebemos muitas visitas, muito menos cavaleiros. Um soldado da Guarda Real, com o brasão do dragão e da torre no peito, desmontou e perguntou por meu Pai.

— Baronete Lucius Freimann? — a voz dele era alta e formal.

— Sou eu — respondeu meu Pai, ficando sério.

O cavaleiro entregou um pergaminho com o selo vermelho do Rei. — Uma convocação de Sua Majestade, o Rei Theron. Para o senhor e para o Conde Albert Von Stein.

Meu coração começou a bater mais rápido enquanto meu Pai lia o pergaminho. O que o Rei queria conosco? Meu Pai agradeceu ao cavaleiro e disse que atenderíamos ao chamado. O cavaleiro mencionou que o Conde Stein também iria e que a “apresentação” seria em duas luas, na capital.

Assim que o cavaleiro partiu, perguntei ao meu Pai o que estava acontecendo.

— É a Convocação Real para a Apresentação Quinquenal, Elian — ele explicou, e vi uma mistura de orgulho e preocupação em seus olhos. — A cada cinco anos, todas as crianças nobres com potencial arcano ou de Espadachim Arcano são apresentadas à Coroa em Velunor.

— Apresentadas? Para quê?

— Para avaliação, registro... para que a Coroa conheça os futuros defensores do reino. É uma formalidade, mas importante. Você e Belle serão oficialmente reconhecidos. — Ele colocou a mão no meu ombro. — Prepare-se, Elian. Iremos para Velunor.

Velunor. A capital. Ser apresentado ao Rei. Um novo rumo... Senti um frio na barriga, uma mistura de medo e excitação. O mundo estava ficando maior.

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